19 novembro, 2006

Fragmento 1

Cabe-me agora, estimado leitor, o dever de concluir o relato começado pelos irmãos Marcus e Ludius e deixar para a posteridade um testemunho fiel (peço a Deus que me não deixe cair, por orgulho, nos os terríveis ardis da parcialidade) dos trágicos acontecimentos que antecederam o grande cataclismo que afastou para sempre das esferas do mundo aquele lugar e aquela gente que todos conhecíamos e prezávamos.

Temos notado que o primeiro sinal da desgraça veio com a aproximação do milénio. No ano 994, os irmãos Marcus e Ludius, que levavam a cabo a tarefa de escrever esta crónica, desapareceram subitamente. O seu desaparecimento teria sido premeditado? O que levou os dois monges, algum antes do seu desaparecimento, a confiaram o seu manuscrito à guarda do nosso mui amado abade, D. Bosco V?

D. Bosco escondeu o manuscrito e manteve segredo da sua posse até à data da sua morte, legando-o àquele que agora procura lançar alguma luz sobre a história destes negros tempos. A sua intenção era efectivamente que o texto se mantivesse desaparecido uma vez que os bens do abade, pela ocasião da sua morte, passariam para as mãos da igreja Salusiana. O santo abade, ao confiar-me o manuscrito no leito da sua morte, apelidou-o de “herético” e confiou-me que os irmãos Marcus e Ludius tinham caído no pecado do orgulho, abandonando a ortodoxia e secretamente propagando as ideias niilistas da seita do Grande Sábio Gottschalk, que previa catástrofes para o virar do milénio.

Perante os factos que precipitaram a chegada de tempos mais difíceis e vendo a sua vida ameaçada, pediu-me que estudasse cuidadosamente o texto, para distinguir a veracidade da heresia.

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