25 novembro, 2006

Do Dragão Pató

Para melhor compreendermos a periclitante acção que se desenrolará neste paraíso Ueirense, temos que recordar uma das mais relevantes catástrofes que os maus ventos de São Denis trouxeram ao pacífico (mas dessincronizado) povo do Lugar.

Logo após o eclodir da guerra (quer dizer, aquela entre Dona Juliana e Dom Eduardo, porque as “outras” já existiam há tanto tempo que o pessoal até se tinha esquecido delas), ia eu dizendo que, logo após o eclodir da guerra (entre Dona Juliana e Dom Eduardo) e da quebra do Tratado de Paço D’Arcos, passou por Santo Amaro o dragão Pató.

Aqui tenho de abrir um parêntesis. Os dragões deste tempo eram muito diferentes dos dragões do século vinte. Eram uns bichos cor-de-burro-quando-foge, com barriga de rato e cintura de vespa, cabeça de abutre e patas de caracol, só a cauda era de ser humano. Este, particularmente, tinha cabelo amarelo à panela e uma crista vermelha, enrugada e mole que lhe vinha desde a testa até ao bico. Gostava de passar as tardes na manicure, usava uma casaca de tecido escocês aos quadradinhos e asas personalizadas (e muito feias...).

Fechando o parêntesis, sabemos que o passeio das três da tarde do Pató o levou ao plácido reino de Dom Pila. Tratou de sacar tudo quanto era dinheiro (é um hábito conhecido dos dragões) e abalou para Caxias, de onde raptou a generalíssima das tropas de Dom Eduardo, Tronca; que, aliás, passava muito mais tempo com o seu soberano do que com as tropas, apesar de Dom Eduardo ser casado e ter que dedicar quase todo o seu tempo à primeira ninhada de oito princepezinhos todos com dois anos (ai!... que idade inocente, coitadinhos...).

O dragão Pató voou com o seu espólio para a montanha de Issékyerabom, em Sintra, e instalou-se numa cova que se abriu quando ele incinerou a estação de tratamento de resíduos biológicos; mas, fenómeno ainda hoje por explicar, os habitantes de Santo Amaro nunca deram pela diferença na sua ribeira.

Voltando a Santo Amaro, o roubo de todo o dinheiro da povoação deixou a economia no caos, tanto mais que, estando em estado de guerra, os dois estados vizinhos de Caxias e da Quinta dos Ingleses tinham mais que fazer do que cooperar na recuperação económica do reino de Dom Pila. Por isso, os habitantes tiveram que se arranjar como podiam para substituir o dinheiro roubado. Uma das soluções mais populares era o tráfico de informações. Snaga, o patife que já apresentámos, tinha um Banco onde se aceitavam depósitos e se concediam empréstimos de informações, a vinte por cento de juros mensais.

Apesar de tudo, os Amarenses até se podiam considerar com sorte, uma vez que os seus problemazitos económicos de pequenos passavam a insignificantes quando comparados com as atribulações dos seus vizinhos.

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