25 novembro, 2006

Relato de Evaristo Tenskadisto

“Muito bom dia, senhores leitores. Na qualidade de mastodondrício presidente (não, risca “presidente” e mete “dirigente”) da rinofrícita delegação observadora nas ilhas constituintes do arquipélago do Bugio, Huynesado de Dona Filipa do Farol (podes tirar “ilhas constituintes”, deixa só “no arquipélago”), tenho o dever (não, tenho o “prazer”) de lhes comunicar a periclitante situação que se viveu intensa, abarroada e ostensoriamente nestes últimos dias.

Com a abastecedora vantagem numérica de dois jogadores, os piratas do Bugio não encontraram qualquer resistência da parte dos dezontoladíssimos e paladiníssimos Ratos de São Julião nas corridas de pulgas-da-areia (não, tira isso que é para a secção desportiva).

Ia eu dizendo (e muito bem) que o Espírito Santo andava implacidicamente a passear as suas lumífonas labaredas pelos saudáveis (e saudosos) ares da foz do Tejo (alegre Tejo). Eis senão quando, ao riscar balisruradamente os céus com os tons rosados do meio-dia (hora local), recebe um incomensurável tele-fonograma digital de Deus, que lhe pedia para assumir a sua portentosa forma de pomba destilada e trazer a paz ao Lugar antes que este se dessincronizasse de vez. Mas o oleado Espírito teve azar e, como nos explicou melindrosa e magnifivilhosamente o grande sábio Gottschalk, as quantidades anastróficas de energia que soltou levaram a que, uma vez que

E = mc2 - m0c2 => ds =/= v0t2 + 1/2at2

uma pequena e arrufada partícula do seu bico invertesse a polaridade o que, segundo os Postulados do Comportamento Particular das Partículas de Gottshalk, levou à infeliz reacção que mesozoicamente metempsicoseou a pomba em ignóbil e açucalgada anti-matéria.

O arrulhante turbilhão que a anti-pomba originou perto do patavónico Castelo do Bugio depressa assumiu dimensões capazes de anexar toda a tágida bacia do Grande Rio, o cinzento Tejo (alegre Tejo). Dona Filipa, num acto de anfíbidico desespero, mandou chamar a bruxa MD (que se dava pelo prúrido título de Mistress of Darkness) a qual, a troco de epidémica quantia, seduziu o alternadíssimo Arcanjo Gabriel, que lá se deixou levar pelo dessintonizado desafio para um jogo de strip-poker em que, caso se desse a incomensurabilidade da sua derrota, prometia usar a sua potência para travar o crescimento do anti-mäelstrom. É claro que o Anjo, se não fosse um tão grandecíssimo e alternadíssimo camelo, teria logo verificado que a bruxa fez batota. Mas não e perdeu o jogo e, como os anjos não têm potência, faltou descarnadamente à sacral palavra dada e só conseguiu ganhar um lugar no desemprego que lhe dessincronizou os miolos.

Mas o Todo-poderoso, Piedoso, Generoso e Pedregoso, o Senhor nosso Deus, suserano de todas as tribos da azul Terra, mostrou ser magnânimo e contraiu o redemoinhante turbilhão num contraceptivo objecto, não maior do que um tomate, mas com a incrível massa de 0,3x1014 toneladas, o que lhe conferia a invicta aceleração gravitacional de 9,8x1013 ms-2 a qual, segundo a Teoria da Relatividade Estrepsídica de Gottschalk, implicava que nem a própria luz se poderia escapar de tal monstro, uma vez que

c < ve

Estranha e aliviadamente, o objecto apelidado posteriormente de Buraco Negro pelo Santo Padre, o papa Bosco IV, em nome do Pai, do Filho e do falecido Espírito Santo (que Deus o tenha), ia eu dizendo que a tal coisa permaneceu alvídicamente inactiva, o que os muitos crentes consideraram como mais um milagre pela Graça do magnânimo e estupefaciente Deus Nosso Senhor.

Evaristo Tenskadisto, RTU, algures no Arquipélago do Bugio. “

(O estilo inconfundível de) Evaristo Tenskadisto, em directo do fulcro da que poderia ter sido a maior catástrofe natural no Lugar desde a erupção do monte Peninha em Sintra, que submergiu a aldeia de Má-feira da Serra (se não tivesse havido outras, bem piores). Cá por mim, só me falta justificar a referência ao Velho da Montanha, o tão citado Gottschalk, que habitava o cume sempre branco da serra de Sintra, no imponente Palácio da Pena. Ninguém sabe o que ele é, nem quem ele é (à excepção, talvez, de Snaga). Alguns chamavam-lhe bruxo, outros consideravam-no apenas um cientista louco, uns achavam que era uma encarnação divina, outros chamavam-lhe Belzebú; outros, por fim, abstinham-se de comentários e diziam que era apenas um sábio e eram, provavelmente, os que mais se aproximavam da verdade. Só Snaga parecia saber tudo acerca do misterioso velho, que vivia com um círculo fechado de amigos no ponto mais isolado do Lugar. Dizia-se de Snaga que o velho e ele próprio eram o mesmo, manifestações diferentes da mesma pessoa, da mesma força, da mesma mentalidade.

O mais, não nos cabe aqui revelar).

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