25 novembro, 2006

A Primeira Catástrofe

O incidente do milésimo quinto vendedor na feira dos mil e quatro não durou muito tempo na memória dos Amarenses. Restabelecido o equilibrio na feira, tudo voltou à normalidade; como não havia dinheiro, trocavam-se bens por boatos e mexericos, boatos e mexericos por calúnias e intrigas; assim se passou outro dia de feira até à chegada de um viajante esbaforido vindo de Sintra:

- Trago boas notícias e péssimas notícias.
- Conta primeiro as boas !
- O grande sábio Gottschalk fez outra descoberta fenomenal.

Gritos de VIVA! ecoaram por todo o recinto. Gottshalk era um ancião simpático e querido de todos.

- Então conta lá as más!
- O grande sábio Gottschalk descobriu que um grande meteorito vai cair aqui perto!

O pânico foi geral, mas nesse momento um grito alertou para a aproximação de uma grande bola de fogo. Todos os presentes se estenderam ao comprido no chão. O meteorito vinha a uma velocidade incrível, quase na horizontal, rasando os telhados. Quando estava quase a chegar ao fim da vila, começou a arrebatar chaminés e antenas parabólicas.

- Vai passar! - dizia-se.

Mas não passou. Esmigalhou-se contra a última casa da população à beira-praia e desfê-la em frangalhos. Uma desgraçada criatura de aspecto mongolóide com dentes de castor e uma enorme poupa cheia de cal e cascalho arrastou-se para fora dos escombros.

- Stófe-lin ! - exclamaram alguns, reconhecendo o infeliz dono da oficina que tinha vindo abaixo - Bem vindo aos desempregados!
- Eu morava ali !... - gemeu Stófe-lin.
- Então, bem vindo aos desalojados!

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